No bairro da Polana Caniço, um dos emblemáticos da cidade de Maputo, há quem percorre longas distâncias, de baixo do sol intenso, à procura de devolver esperança àqueles que, em desespero, abandonam o tratamento antirretroviral.

Na azáfama característica dos bairros suburbanos, entre crianças e adultos nas ruas e becos, os activistas nunca desistiram de exercer as suas actividades.  Salvar vidas é o seu foco principal.

Às vezes, é possível encontrá-los em grupos de dois. Outras vezes, encontram-se sozinhos. No geral, todavia, estão presentes, em diversos bairros da Cidade de Maputo, mobilizando e disponibilizado mecanismos de apoio para os indivíduos cronicamente adoentados.

Muitos destes activistas têm trocado o conforto das suas residências pelas ruas e casas, da Polana Caniço, onde levam  mensagens de sensibilização para aderência ao tratamento do HIV e outras doenças.

Ercília Djedje, activista que se associa a Kutenga, faz parte deste grupo. Juntou-se ao activismo em 2019, depois de receber um convite do chefe do seu quarteirão. Na altura, chamou-lhe mais atenção o trabalho com adolescentes e jovens.

“Tenho muito interesse em trabalhar com adolescentes daqui da cidade de Maputo. Apesar de estarmos numa altura com muita informação, os adolescentes continuam a manter relações sexuais desprevenidamente”, lamenta.

Pela experiência que foi adquirindo, Djedje notou que as pessoas crêem não ter HIV, mesmo quando  nunca terem se submetido ao teste, ao que ela diz que, “enquanto não tivermos o teste feito, estamos todos contaminados.”

Relações sexuais desprotegidas, conta a activista, continua sendo um dos maiores problemas que contribui para que a doença se espalhe, “os adolescentes, particularmente, dizem que confiam nos seus múltiplos parceiros e que se relacionam com os mesmos e outros parceiros sem prevenção.”

A activista lamenta que “geralmente, quando um casal contrai alguma DTS, um dos parceiros faz-se sozinho ao centro de saúde, sem que o outro tenha informação. É preciso que se enfrente isto em grupo, com o parceiro ou a família.”

A VERGONHA AINDA É  UMA BARREIRA

Durante os seus dois anos como activista, Djedje já viu muita coisa, tendo obtido, durante este tempo, muita experiência sobre como lidar com as pessoas.

“Neste tempo, que até pode parecer curto, mas não, vi muita coisa. Há pessoas que vivem com HIV e, que por causa da vergonha, preferem comprar medicamentos aos técnicos de saúde”, conta.

De acordo com a entrevistada, “estes, geralmente, não seguem os trâmites legais. Desaparecem por muito tempo, ou nunca estão no hospital e só regressam quando o estado deles piora”, lamenta.

Para a activista, os indivíduos seropositivos que se escondem dos centros de saúde não somente prejudicam a si mesmos, assim como prejudicam aos outros.

“A tendência destas pessoas é comprar uma quantidade sempre acima daquela que cada paciente merece. Geralmente, a quantia facultada ao doente comprador é a mesma que faz parte da reserva”, conta.

Por causa disto, Djedje entende que é necessário que haja uma gestão clara e um controlo legal de medicamentos nas unidades sanitárias, para que realmente se beneficie o necessitado.

O estigma costuma ser uma constante no seio das pessoas que vivem com HIV. Às vezes, nas suas idas aos bairros, ela crê que muita gente se recusa a dar informações verdadeiras por temer estigmatização.

“Em alguns casos, tu notas que a pessoa diz não ter HIV por temer que os vizinhos saibam da sua condição de saúde’, conta.

O DIA-DIA DO ACTVISMO

Numa terça-feira, logo às primeiras horas do dia, Djedje entra no bairro da Polana Caniço. Percorre uns poucos quilómetros e, no primeiro beco que entra, um senhor chama-lhe atenção. É um homem de meia-idade, locomovendo-se com o suporte de uma bengala e sem máscara no rosto.

Djedje cumprimenta-o. Este aceita, mas distancia-se. No entanto, na casa ao lado, um casal predispõe-se a ouvir a mensagem da Djedje. Abrem-lhe às portas da  casa e conversa inicia.

“Estamos em tempos difíceis. Além de outras doenças, temos a Covid-19,” conta Djedje, enquanto prepara um cartaz sobre a Covid-19, para explicar ao casal.

Djedje fala igualmente sobre outras doenças crónicas ao casal que aceita a informação com satisfação. No fim, a família acolhe toda a mensagem e Djedje continua o seu percurso que não é apenas marcado por bons momentos.

“Algumas pessoas, aqui, não querem falar connosco. Outras podemos só com os olhos ver que não se encontram bem. Tossem e deviam ir a uma unidade sanitária, mas recusam-se”, lamenta.

Mas nada disso impede a activista de dar continuidade ao seu trabalho, pois no meio a tantas recusas, “há pessoas que ainda nos querem ouvir e é assim como salvamos muitos” .

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