Marta Cossa trabalha no Hospital Provincial de Maputo, província com o mesmo nome, há pelo menos sete anos. Como todos os profissionais de saúde em Moçambique, ela debate-se, frequentemente, com a sobrecarga dos trabalhos que presta aos utentes.
A sobrecarga que ela enfrenta é causada pela desigualdade gerada pelo rácio entre um profissional de saúde por habitante.
Apesar das barreiras, ela nunca pensou em desistir da sua profissão que constitui “um sonho de infância.” e que a teria , inclusive, levado a desistir do primeiro ano de contabilidade em Moçambique, para rumar ao Brasil, onde cursou enfermagem.
Para Marta, “nunca desistimos. Procuro fazer o meu trabalho dentro das condições que temos. Este é um problema enfrentado em todo o país.”
“Se eu saio, a situação pode piorar. Entrei nesta profissão porque sempre gostei de cuidar das pessoas”, conta.
Sentada numa das salas do Hospital, Cossa conta que a insuficiência de profissionais no Sistema Nacional de Saúde (SNS) constitui um problema.
“Podia chegar a atender entre 30 a 50 doentes. Os números oscilam por aí. Precisamos de mais recursos humanos.”
Atrás de uma máscara que a protege da Covid-19, Cossa conta ao Observatório Cidadão para Saúde (OCS) que, geralmente, trabalha com um colega, o que significa que são duas pessoas na enfermaria da ortopedia, mas há dias em que “fico sozinha no meu sector.”
Refira-se que o Inventário Nacional (SARA 2018) explica que o rácio médio nacional da força de trabalho é de 6 trabalhadores da área específica de saúde por 10.000 habitantes.
Tem sido muito difícil trabalhar com a Covid-19. Um dia assistimos à contaminação de um colega e, depois, o mesmo colega perde a vida e pensamos: Talvez amanhã serei eu
Quando Cossa começou a exercer a sua actividade profissional, na medicina geral daquele hospital, a Covid-19 era impensável.
Nessa altura, a máscara e a viseira, que agora cobrem o seu rosto, o álcool e gel e a batina descartável, eram instrumentos do trabalho passíveis de ser usados, assim como não.
Nos corredores não reinava o medo de se contaminar ou perder a vida por causa desta doença.
“Vês um colega a testar positivo e, dias depois, ouves que o mesmo perdeu a vida e pensas: talvez amanhã serei eu”, desabafa a profissional.
A enfermeira conta que este tem sido o maior medo dos profissionais de saúde, desde que se identificou o primeiro caso de Covid-19 em Moçambique – em Março de 2020.
Até então, Moçambique, pelo menos 32 profissionais de saúde perderam a vida, vítimas da Covid-19, num cenário em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) avança que 10 por cento de profissionais de saúde perdem a vida vítimas da Covid-19 em todo o mundo.
Quando restauramos a saúde de um paciente, temos mais certeza que pertencemos a este lugar
Para a enfermeira, um dos melhores momentos da profissão dá-se quando um doente se cura.
“Fazemos de tudo para ver o doente melhor e a regressar ao seu lar. É a maior satisfação que temos. Isso enche-nos de alegria”, conta Cossa, que tem o rosto atrás de uma máscara e uma viseira.
Por causa do uso da máscara, não é possível ver a sua expressão facial. As emoções estão escondidas por detrás da máscara, mas a voz, meio fina, revela a alegria da enfermeira.
“Quando terminamos o dia assim, voltamos alegres a casa”, afirma a profissional, que trocara a contabilidade pela enfermagem.
No Brasil, enquanto estudante, teve a barreira cultural, mas superada apenas pela língua.
Agitações e conselhos de colegas não foram suficientes para que ela decidisse em fixar residência no Brasil.
O seu desejo sempre foi retornar a casa. Em dias de sucesso, ao assistir a um paciente, a enfermeira ganha a certeza de que tomou a decisão certa ao voltar a Moçambique
A enfermeira lamenta ainda a atitude daqueles colegas “que exigem dinheiro em troca do serviço que prestam. Isso não é ético. Os colegas que fazem isso são uma minoria. Recebemos o nosso salário e não devemos fazer cobranças ilícitas. Os profissionais que fazem isso são uma minoria que mancha a classe toda.”
Tal como Enfermeira Marta existem tantas e tantos. Mas por conta da minoria que vergam por caminhos ante eticos como ela diz, acabam manchando toda classe de Enfermagem que tanto faz em prol da Saude dos seus pacientes e do povo Mocambicano.
Vamos incentivar os Enfermeiros para mudarmos o rumo das coisas, so a classe de Enfermagem sem apoio de Todos nada vai melhorar. A Vontade, a Compaixao, a Empatia…… sao vertudos presentes no espirito do Enfermeiro/a que precisam serem regados ………