No bairro de Pazimane, distrito de Marracuene, uma zona distante das grandes urbes, há quem, em meio à pandemia da Covid-19, abandona o conforto do lar às primeiras horas do dia, para cuidar daqueles que não se podem deslocar às unidades sanitárias.

Entre o sol escaldante, poeira nos pés, e o risco de se contaminar pela Covid-19, Anilça Macuacua (34), uma Agente Polivalente Elementar (APE) residente no bairro de Pazimane, percorre mais de cinco quilómetros para dar assistência aos doentes e  pôr em prática as palestras que visam consciencializar os utentes sobre prevenção de males que atentam a saúde.

No seu percurso, Macuacua fala às comunidades sobre a necessidade de fazerem o planeamento familiar, assim como  alerta-as sobre  a necessidade do uso da rede mosquiteira e prevenção  de doenças como malária e outras doenças.

A dor da distância que devia ser dos outros [doentes], ela  a toma para si, uma vez por semana.

“Eu faço isto por amor. Gosto de ajudar as pessoas que não se podem deslocar às unidades sanitárias pelo facto de estas estarem distantes dos centros de saúde.”

Mas  nesta actividade, conta Macuacua, nem tudo é caracterizado por momentos bons. Há também dissabores.

“Este ano uma família me expulsou. Não aceitou que eu entrasse na sua casa. Fiquei triste. Me entristece porque apesar de tudo, tomo todos os cuidados de prevenção e faço longas distâncias. Era a primeira vez naquela casa e não me abriram as portas.”

Em Pazimane, a unidade sanitária mais próxima dista há nove quilómetros. Com as vias de acesso  em condições  degradáveis e precárias,  e com falta de transporte, centenas de pessoas olham para Macuacua como a primeira e, às vezes, a única solução.

“Na semana passada,  à madrugada, vieram pessoas bater  à porta da minha casa. A algumas ruas daqui, uma mulher estava dando  à luz a um  bebé”, conta, acrescentando que, “ Ela acabou dando à luz na rua. As pessoas ajudaram-na, mas não sabiam como lidar com o cordão umbilical.”

Por isso, “tive que deixar a cama e  deslocar-me ao encontro da parturiente. Felizmente, tudo correu bem. Cortei o cordão. Em seguida,  levámos a mulher a unidade sanitária.”

 Na noite em questão, afirma Macuacua, manifestando o seu entusiasmo por ter ajudado a parturiente, “vi parte dos frutos do meu trabalho reflectindo-se noutras pessoas do bairro, todo mundo ajudou a mulher parturiente. Alegrei-me quando um vizinho, motorista de profissão e que normalmente cobra mil meticais por seus serviços, livrou-nos dos custos do transporte. Fiquei feliz e espantada.”   

Com o tempo, ela foi criando um hábito, “fazer poupança para ajudar as pessoas que necessitam de ir ao hospital. Há momentos complicados. Nesses momentos, precisamos de um carro. Então, decidi que devo poupar algum dinheiro para levar as pessoas  à unidade sanitária.   Nos actuais dias, devido à pandemia, por uma viagem de ida à unidade sanitária e retorno a casa, os chapeiros cobram mil meticais.

Com menos de 4 anos actuando como APE, Macuacua acabou conhecendo e  aperfeiçoando a sua estratégia de trabalho.

“Na época da colheita, por exemplo, uma vez que as pessoas aqui vivem de agricultura, faço visitas e palestras às tardes. Caso contrário faço-as de manhã.”

“Com a Covid-19 reduzi  a quantidade de visitas”

Em finais de 2019, a imprensa reportava  a eclosão da Covid-19. Na altura, sem casos  registados em Moçambique e em África, Anilça Macuacua ficou quase indiferente. À semelhança de muitos, pensou que a Covid-19 não chegaria a Moçambique. Contudo, um tempo depois, anunciou-se oficialmente o primeiro caso de um moçambicano contaminado.

“Esta doença veio mudar tudo. Algumas pessoas ficam mais apreensivas. Eu própria tenho medo de me infectar. Desde que iniciou nunca me contaminei, graças a Deus”, acrescenta, lamentando que, “apenas recebeu uma vez equipamento de protecção”.

Lamentou ainda o facto de ter recebido apenas uma vez o equipamento de protecção contra a Covid-19.

Na casa de Macuaua, neste novo contexto, há cadeiras espalhadas pelo quintal com o objectivo de se impor o cumprimento  do distanciamento entre as pessoas que lhe prestam visitas  em busca dos primeiros socorros.

“Agora, com a Covid-19, reduzi  as minhas visitas. Sem protecção, é complicado. Antes fazia pelo menos duas visitas por semana, mas agora faço apenas uma”, disse.  

A fonte acrescentou igualmente que antes da Covid-19, prestava visitas a mais de cinco casas, mas actualmente tem visitado apenas duas.

“Fico feliz quando um doente me informa que foi bem atendido.”

 Uma das maiores felicidades da Macuacua reside em receber  alguém e depois  encaminhá-la à unidade sanitária.

“Quando as pessoas regressam do hospital , elas me procuram. E dizem como foi. Mas o que mais me deixa feliz é quando elas me informam que foram bem atendidas.”

Sublinhou que “ é que eu sou o elo entre o Hospital e as comunidades por isso, quando acontece o contrário, as pessoas são mal atendidas, e eu fico triste.”

*Esta entrevista foi feita uma semana, antes do início da vacinação a nível  nacional. Na terça-feira da semana em curso, a fonte ligou ao Observatório do Cidadão para Saúde (OCS) a informar que recebeu a primeira dose da vacina contra  Covid-19.

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