Numa altura em que o país e o mundo estão sendo assolados pelo novo coronavírus, um vírus que tem como uma das medidas de prevenção a lavagem constante das mãos, o Centro de Saúde 1º de Junho em Maputo encontra-se sem água há duas semanas.
No âmbito de uma actividade que está sendo realizada pelo Observatório do Cidadão par Saúde (OCS) sobre o acesso a água nas unidades sanitárias – que vai ser publicado em breve – constatamos que na cidade de Maputo algumas unidades sanitárias não têm água nos seus balneários, destacando-se neste espaço o Centro de Saúde 1º de Junho, no bairro do Ferroviário.
No Centro de Saúde 1º de Junho o cenário é deplorável. As casas de banho, além de não terem torneiras, encontram-se imundas. Pode se sentir um cheiro nauseabundo e ácido da urina no chão.

À entrada da unidade sanitária pequenas garrafas de 5 litros são um prenúncio de que a situação não é agradável. Essas garrafas são usadas para encher uma maior de quase 20 litros – com água para lavagem de mãos no âmbito de prevenção contra a covid-19.
Essa água apenas deve ser usada apenas quando se entra no hospital. Depois de usar os balneários os utentes não usam água uma vez que se deve poupar a mesma.
Esta situação coloca em risco a saúde de milhares de utentes daquela unidade sanitária na cidade de Maputo que é, aliás, usada geralmente pelos moradores do bairro do ferroviário no subúrbio da capital moçambicana.
Os utentes daquela unidade sanitária correm o risco de contrair outras doenças no local onde era suposto lhe serem curadas as doenças que trazem de casa. Assim, aquela unidade sanitária torna-se num foco de contração de doenças.
Frequentar aquela unidade sanitária é um risco. Um risco para os utentes, assim como para os funcionários da mesma que inclui o pessoal médico, serventes entre outros.
Numa altura como esta à vista se pode vislumbrar que os utentes possam contrair doenças como cólera assim como a própria Covid-19, tendo em conta que a higiene (lavagem de mãos) é um facto preponderante para prevenção.

Numa altura em que Moçambique ultrapassa três mil casos e cerca de metade dos casos activos estão na cidade de Maputo é inconcebível que uma unidade sanitária fique sem água.
Actualmente, o centro de saúde se abastece de água cedida gentilmente pelas populações vizinhas. Assim, com esta situação alguns utentes são obrigados a trazer água das suas residências.
Em alguns casos, as mulheres grávidas são transferidas para o hospital de Mavalene. Naquele centro, algumas operações não são realizadas devido a falta de água.
Os utensílios usados para pequenas operações não estão a ser esterilizados.
Como saída, os gestores hospitalares tendem a enviar os doentes a uma outra unidade sanitária Mavalane.
Independentemente da transferência há um custo, seja para financeiro para o hospital ou utentes e consequentemente do Estado.
Mais ainda há o custo de inutilizar-se parcialmente o centro de saúde, fazendo com que uma outra unidade sanitária seja sobrecarregada pelo número de utentes.
A falta de água numa unidade sanitária traz consigo mais um grande problema: fragiliza o hospital na luta contra a pandemia da covid-19.
A situação da pandemia tem estado a piorar na cidade de Maputo, tendo levado o Ministério da Saúde (MISAU) a declarar que se está diante de uma transmissão comunitária.
A situação se torna mais dramática quando se visita as casas de banho dos utentes: tem as mais deploráveis condições que já se viu.
Mas não é caso único do Centro de Saúde 1º de Junho. O Centro de Saúde de Hulene tem uma casa de banho limpa, mas sem água corrente, igualmente.
Para ter acesso ao sanitário, o OCS teve de fazer um pedido para ter uma chave, após cerca de cinco minutos de “negociação”.
O OCS ficou a saber que o sanitário do doente fica trancado porque os gestores hospitalares acreditam que qualquer pessoa pode ter acesso e não limpar no final. Esta prática não é apenas desta unidade sanitária. O utente tem o direito a ter acesso aos sanitários sem que para tal tenha de negociar.