Maputo, 21/09/2022 – Na sequência de uma campanha levada a cabo pela Saber Nascer e ASCHA– duas Organizações Não-Governamentais que trabalham no combate à VBG e violência obstétrica; e em prol da promoção e de protecção dos direitos humanos, respectivamente – para a doação de sangue a favor de uma jovem activista, internada no Hospital Geral José Macamo, várias pessoas mostram-se solidárias.
No entanto, os voluntários que se fizeram ao hospital não puderam proceder com a doação de sangue porque o hospital, alegadamente, não dispunha de formulários para o preenchimento de dados do doador.
De acordo com os profissionais de saúde daquele hospital, a impressora estava fora de serviço e não havia outro mecanismo de imprimir os formulários necessários para que fossem preenchidos pelos doadores de sangue.

Este facto deixou os doadores espantados, sem perceber o porquê de o um hospital desta magnitude não dispor de alternativas para imprimir um simples papel, havendo impressoras em diferentes departamentos.
Uma das voluntárias que reponde ao nome de Rita deparou-se com a barreira e ficou indignada com o facto “ de um Hospital grande daqueles depender de uma única impressora.”
O mais preocupante, para a voluntária, é que o hospital solicitou, com muita urgência, aos familiares da paciente para que doessem cerca de sete litros de sangue, mas estes, quando lá chegaram foram embora “por falta de papel.”
“Recebemos a informação de que se precisava de sangue urgente para uma paciente. Quando chegámos lá, ficámos na bicha e, quando chegou a hora de entrar, disseram-nos que já não possuíam formulários e nem tinham como imprimi-los porque a máquina estava estragada”, desabafou.
No local, contou a fonte, “algumas pessoas que tinham solicitado despensa nos seus locais de trabalho para ir doar sangue não teriam como voltar dia seguinte.”
“Nós tínhamos certeza que um hospital daqueles tem vários sectores que podiam, muito bem, imprimir o formulário, tendo em conta a urgência que o caso da paciente exigia.
Neste contexto, desabafou a fonte, “começámos a duvidar da urgência que alegavam e levantámos a hipótese de que queriam colher o sangue para outros fins.”
“Se fosse urgente, eles poderiam ter dispensado a colecta de sangue?”, indagou Rita.
Gestores Condenam Alguns Funcionários Por Má Fé
O Observatório Cidadão para Saúde (OCS) contactou o administrador do Hospital Geral José Macamo, Domingos Guento, que prontamente afirmou que, neste caso, provavelmente tenha havido má fé dos profissionais em serviço, dado que nunca faltaram formulários e a impressora nunca esteve estragada.
O dirigente mostrou-se indignado com a atitude dos profissionais que atenderam os voluntários, tendo explicado que mesmo sem formulários a doação não devia ter sido impossibilitada.
“Não é por falta de papel que o dador de sangue benevolente não pode doar. Este tipo de questão tem a ver com a atitude dos colegas. Era possível contar quantos doadores estavam lá e tirar cópias só para eles. Não há nenhum impedimento para isso”, sublinhou Guento.
Disse ainda que a impressora do hospital está funcionar e que não chegou de se estragar.
“Nós estamos a desenvolver campanhas de sensibilização e tem aparecido pessoas de boa vontade. Alguns colegas procuram argumentos só porque não querem trabalhar. Nós não apoiamos este tipo de comportamento”, acrescentou.
Guento, para esclarecer melhor o caso, colocou-nos em contacto com o chefe do banco de sangue que imediatamente também distanciou-se da atitude dos colegas e pediu “para que ajudássemos o Hospital, identificando profissionais envolvidos no banimento de voluntários, para que os mesmos sejam responsabilizados.”
“Precisamos pôr fim a este tipo de atitude porque se nada fizermos estes colegas vão continuar a perpetrar estes actos. Por isso, pedimos que nos ajudem a identificá-los para posterior responsabilização”, apelou.
“No banco de sangue, nunca houve ruptura de formulários”, afirmou a chefe e, recorrendo aos argumentos do administrador, disse os formulários jamais impediriam a doação de sangue, pois há outros meios para substituir a falta de ficheiros.
Disse ainda que o hospital tem várias impressoras e que não depende só de uma. Neste contexto, garantiu que iria aferir dos colegas que estavam de serviço no dia da ocorrência para apurar exactamente o que teria acontecido. (OCS)