Uma pesquisa conduzida pelo Observatório do Cidadão para Saúde (OCS) nas diferentes unidades sanitárias da capital do país constatou que há roptura de stock de testes da Covid-19.

Por causa disso, as entidades de saúde optam por testar os pacientes que apresentam sintomas graves da doença, o que significa que há pessoas que voltam à casa sem efectuar o teste mesmo após solicitarem o diagnóstico.

A única unidade sanitária que ainda efectuava testes na semana passada era o Hospital Geral José Macamo. O HCM, por sinal a maior unidade sanitária do país, e os hospitais de Mavalane, de Chamanculo e da Polana Caniço, estavam a gerir os últimos cartuchos do stock de testes.

“Estive ontem no Hospital Central de Maputo (HCM) porque tenho sintomas idênticos aos que são publicitados sobre quem pode ter coronavírus. Entretanto, fui aconselhado a vir ao Hospital Geral José Macamo, por falta de testes no HCM. Hoje, vim para aqui e me estão a dizer que não é necessário fazer o teste e me receitaram medicação de gripe. Agora, eu não sei se tenho Covid-19 e se tiver estou a propagar a doença”, questionou Manuel Gudo em conversa com a nossa equipe no HCM.

Entretanto, com o aumento do número de casos da Covid-19 no país, e em Maputo, em particular, mesmo o Hospital Geral José Macamo começa também a ressentir-se de escassez de testes da Covid-19.

Outros utentes confirmaram que não basta ter sintomas da Covid-19 para ser testado, há outros critérios que não são públicos, o que está a causar uma grande indignação no seio dos cidadãos que dirigem-se às unidades sanitárias para testagem.

Rosa Cuna também não foi submetida ao teste da Covid-19 mesmo estando com sintomas associados à doença. Cuna disse não entender os critérios de testagem, porque quando questionada se esteve em contacto com alguém com Covid-19, respondeu que não sabia, o que resultou na não realização do teste.

“Ouvimos todos os dias na televisão que quem desenvolve sintomas do coronavírus deve procurar a unidade sanitária mais próxima para a realização do teste e, por esta via, vim aqui para o Hospital de Chamanculo e me dizem que não há necessidade de teste. Afinal, o que está a acontecer?” questionou.   

No sector privado o cenário é outro

O mesmo não parece acontecer no sector privado, que apesar das filas enormes, os testes têm estado a ser feitos. Todavia, os preços não estão ao alcance da maioria da população desfavorecida. Em resposta às oportunidades de negócio criadas pela pandemia, quase todas as unidades sanitárias do sector privado têm as condições criadas para a realização de testes, sendo que grande parte dos pacientes submetidos a testagem são enviados pelas empresas em caso de suspeita de Covid-19

Nestas unidades sanitárias do sector privado, o custo dos testes varia entre 1,000 a 5,000 meticais, o que não é fácil para grande parte da população, que vive com menos de um dólar por dia e depende de vendas diárias para se sustentar. Nestes termos, os testes no sector público, que são “gratuitos”, são a alternativa para essa franja populacional.

Nas redes sociais circulam informações da existência de empresas oferecem o serviço de testagem ao domicílio num custo que varia de 6,500 meticais a 7,500 meticais, um valor insuportável para uma grande maioria dos Moçambicanos.

Mas se o sector público não testa os utentes com apenas os sintomas da Covid-19, o que dizer daqueles que depois de 14 dias são declarados recuperados mesmo se continuam com sintomas, sugerindo a necessidade de um novo teste para garantir que o paciente já não tem mais Covid-19? Esses pacientes recebem alta e regressam ao convívio familiar sem receber a confirmação de que já são negativos. Ora, pelo mundo fora e em Moçambique, em particular muitos pacientes assintomáticos (como é o caso do futebolista Cristiano Ronaldo) voltaram a testar positivo para Covid-19, mesmo depois de terem passado 15 dias em tratamento.

Esta situação de mandar as pessoas automaticamente para o convívio normal pode ser perigosa para a saúde pública e para contenção da pandemia, na medida em que muitos moçambicanos podem estar ainda infectados e por esta via serem um factor de propagação da doença.

É nossa opinião que o serviço de rastreio de contactos e acompanhamento de pacientes em regime de confinamento não está a fazer o seu trabalho de forma a poder evitar que cidadãos que testaram positivo para Covid-19 tomem decisões sobre a sua saúde sem o devido acompanhamento sanitário.

Parece haver uma contradição entre o que as entidades de saúde dizem à imprensa sobre a disponibilidade de testes nas unidades sanitárias públicas e a realidade encontrada pelos cidadãos que se dirigem as unidades sanitárias a procura de serviços de testagem para Covid-19.

Constatações

A pesquisa permitiu perceber que além da falta de testes, os critérios de inclusão para a testagem nas unidades sanitárias públicas não são claros, o que gera discriminação e incentiva a corrupção.

A segunda constatação é de que o serviço de seguimento de pacientes que testaram positivo para Covid-19 e estão em regime de confinamento não estão a receber seguimento por parte dos serviços sanitários o que pode contribuir para o fracasso da resposta do país à rápida expansão da contaminação comunitária.

A terceira constatação está relacionada com a falta de informação sobre onde estão localizados os centros de testagem e como estão organizados, daí que algumas unidades sanitárias não parecem estar organizadas para lidar com a avalanche de cidadãos com sintomas de Covid-19 procurando pelos serviços de testagem e consulta médica pós-testagem, o que de certa maneira contribui para o pánico generalizado e recorrência a auto-medicação o que constitui um perigo para os cidadãos.

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