O Observatório Cidadão para Saúde (OCS) tem vindo a receber, nos últimos dias, denúncias referentes à falta de medicamento antiretroviral em algumas Unidades Sanitárias, a nível da cidade de Maputo.

De acordo com os utentes, dos medicamentos que são usados para o tratamento do HIV/SIDA, nomeadamente: o DTG, TDF, DUOVIR, ATAZANAVIR, LAMIVUDINA, ABACAVIR, escasseia mais este último (ABACAVIR).

Este tipo de comprimido é administrado, maioritariamente, em pacientes com HIV/Sida e que tenham outras complicações de saúde associadas, como é o caso de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Um dos pacientes, falando na condição de anonimato à equipa do OCS, explicou que faz o levantamento de seus medicamentos no Centro de Saúde 1º de Maio, arredores da capital do país. No entanto, após sofrer um AVC, os médicos tiveram que trocar o fármaco para ABACAVIR+LAMIVUDINA, medicamento ideal para a sua actual condição de saúde.

Desde que houve a troca dos comprimidos, afirma a fonte, apenas consegue ter acesso a cinco no máximo, dado que os restantes escasseiam.

“A quantidade de comprimidos que eu levava antes de ser acometido pelo AVC eram suficientes para um mês e só depois é que voltava para buscar outros. Mas agora, praticamente todas as semanas, tenho que ir ao centro de saúde. Fica difícil locomover-me frequentemente por conta da minha actual condição, pois nem sempre tenho alguém para mandar”, reclamou o paciente.

O paciente explicou ainda que numa sexta-feira, possuindo apenas um comprimido, pediu a sua esposa que fosse ao centro de saúde, mas esta não conseguiu ter acesso aos medicamentos “foi-lhe informada que não havia medicamento.”

Assim sendo, ela foi obrigada a suplicar, explicando que o marido corria perigo de vida já que possuía apenas um comprimido para os dias restantes, mesmo tendo-se em conta que o tratamento antirretroviral deve ser cumprido à risca e sem interrupção alguma.

Só depois disso é que o farmacêutico em serviço lhe deu três comprimidos, recomendando que regressasse na segunda-feira para ter acesso a mais medicamentos.

As denúncias sobre a falta de antiretrovirais incluem, igualmente, o Centro de Saúde do Alto-Maé, local escalado pela nossa equipa.

“Sempre começamos o tratamento com o DTG. Depois de um mês, o paciente é submetido a análises para ver se continua com a mesma linha ou não. Podemos afirmar que de 2 em cada 10 pessoas, submetidas a exames, podem vir a mudar de linha. Isto quer dizer que, especialmente, o ABACAVIR é receitado aos doentes que tenham sido diagnosticados outra condição de saúde, quer seja AVC, insuficiência renal, e outros problemas hepáticos. Quero acreditar que por causa do número reduzido de pacientes que usam, se faça uma importação limitada”, disse a nossa fonte naquela Unidade Sanitária, sem garantir necessariamente que seja esta a verdadeira causa da escassez.

SITUAÇÃO ULTRAPASSADA

Com intuito de apurar a veracidade das denúncias, o Observatório Cidadão para Saúde contactou as autoridades competentes, concretamente a Direcção dos Serviços de Saúde da Cidade.

Nilsa Zucua, chefe do programa de HIV na Direcção de Saúde, reconheceu “que houve sim um pequeno atraso na chegada do avião que transportava os fármacos ao país, mas a situação foi ultrapassada.”

 “Como sabem, os medicamentos são importados para Moçambique. Há semanas, tivemos atraso na chegada dos mesmos, o que criou uma pequena ruptura nas Unidades Sanitárias. Mas a situação foi ultrapassada e as Unidades Sanitárias já têm a orientação de como devem proceder”, disse Nilza Zucua, adiantando que “já não temos este problema. São coisas que realmente acontecem, do mesmo jeito que falta o paracetamol, às vezes. Tudo tem que ver também com a falta de coordenação a nível da Unidade Sanitária, comprometendo, obviamente, a disponibilidade do medicamente”.

De acordo com Zucua, são vários os factores por detrás da inexistência de um certo medicamento.

“A única coisa que posso afirmar com clareza é que este problema está ultrapassado”, reiterou.

De referir que o tratamento antirretroviral obedece duas linhas terapêuticas, nomeadamente: a 1ª e a 2ª, sendo que a TARV de primeira linha é composta por 1 comprimido (“2 em 1” TDF+3TC) e 1 comprimido de DTG, utilizados em simultâneo, em tomada única diária (no horário de preferência do paciente, sempre no mesmo horário, com ou sem alimentos).

A chefe do programa do HIV que explicou ainda que o ABACAVIR pode ser administrado em duas linhas, mas apresenta algumas particularidades na primeira linha, em que alguns utentes não podem ingerir um determinado fármaco.

“O ABACAVIR não se dá só na 1ª ou só na 2ª linha, mas sim numa ou noutra linha e muitas das vezes tem suas particularidades na 1ª linha, que tem a ver com alguns utentes que não podem fazer um determinado fármaco, neste caso, o TDF, por conta de uma certa condição referente à insuficiência renal”, referiu.

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