Na sequência da informação que tem circulado na comunicação social e nas redes sociais, dando conta da inexistência de medicamentos, há dois meses, no Hospital Rural de Chicuque, na província meridional de Inhambane, o Observatório Cidadão para Saúde (OCS) contactou as autoridades daquela unidade hospitalar para melhor se inteirar sobre a situação.
Durante a interação, o médico chefe daquele hospital, MicailJulaya, refutou a informação referente à inexistência de paracetamol há dois meses, argumentando que “não é verdade que neste hospital falta medicamento. A informação que aparece na televisão não saiu do hospital, aquilo foi invenção dos jornalistas.”
De acordo com o médico chefe, a direcção do hospital “distancia-se da alegada inexistência de medicamentos. Para um melhor entendimento sobre o assunto, deve-se consultar os Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social da Maxixe, que são responsáveis pela gestão de medicamentos.”
“Quem gere os medicamentos não é a unidade que atende o paciente”, sublinhou Julaya.

A refutação da inexistência do medicamento surge numa altura em que, de acordo com uma pesquisa levada a cabo pelo OCS, intitulada Desafios de Implementação de Políticas em Tempos de Crise e Estratégia de Minimização, a pandemia da Covid-19 provou que o governo moçambicano não possui um plano de contingência adequado para prover serviços de saúde de qualidade em tempos de crise, até porque o aumento populacional, associado à elevada taxa de fertilidade e natalidade, gera aumento da demanda de serviços de saúde, sendo necessário e urgente que a evolução orçamental esteja em conformidade com a tendência de crescimento populacional. (leia a pesquisa completa: https://www.observatoriodesaude.org/covid-19-provou-que-o-governo-nao-esta-preparado-para-lidar-com-crises/).
Não obstante a refutação, o médico-chefe provincial em Inhambane, João Muchanga, em declaração a diversos órgãos de comunicação social, revelou que os medicamentos disponíveis poderão durar por quatro meses apenas, acrescentando que “outros medicamentos essenciais ficaram fora do prazo por conta da má gestão e procedimentos incorretos de armazenamento.”
“Agora está-se a trabalhar para se melhorar a gestão. A província de Inhambane tem medicamentos suficientes para abastecer 144 unidades sanitárias por quatro meses”, afirmou o médico.

Mau Atendimento VS Respeito pelas Regras Hospitalares
Além das informações relativas à inexistência de medicamentos, o OCS, através da sua linha verde, recebeu recentemente ligações de alguns usuários dos serviços de saúde de Chicuque, denunciando ocorrência de maus tratos e morosidade no atendimento.
“Fui ao Hospital Rural de Chicuque porque a minha filha estava machucada. Disseram-me que o raio-x faz-se apenas das 07 até às 15:30 e, por isso, eu devia voltar no dia seguinte. Quando voltei e fui ter com um profissional, fui maltratada… o profissional gritou para mim e ordenou que eu me sentasse num lugar em que se fazia sentir um sol intenso, mas me recusei”, afirma uma utente, em condição anónima.
“Sempre que vou ao Hospital Rural de Chicuque, assisto ao mau atendimento e, como se não bastasse, são morosos no atendimento. Chegaram a questionar-me o porquê de a minha criança ter caído, como se o acidente tivesse sido propositado, mas eu disse que estava no serviço. Reparei para o profissional que me ralhou… outros pacientes reclamavam a falta de atendimento na troca de gesso”, adiantou a mesma utente.
Confrontado com esta situação, MicailJulayaafirmou que “concordamos que haja mau atendimento, mas temos que perceber o que é mau atendimento… há pacientes que, por exemplo, não percebem que se deve cumprir um critério para se chegar ao banco de socorros.”
“Não estou a dizer que os utentes são mentirosos, o que digo é que, às vezes, há uma má perceção sobre os assuntos… cada unidade sanitária tem seus hábitos e há casos em que se confunde os modos de ser e estar… quando há um ruído na informação, surge a má perceção, embora existam profissionais que não sabem falar com os pacientes”, acrescentou o gestor.
O que acontece, explicou Julaya, é que há pessoas que recorrem ao Hospital Rural com doenças que devem ser atendidas no centro de saúde.
“Por exemplo, o hospital tem pacientes graves e, neste caso, dá-se prioridade ao doente grave em detrimento daquele que devia ser atendido no centro de saúde. Há quem não percebe isso e diz que está a ser mal-entendido”, afirma Julaya.
“Em casos de mau atendimento, há ali um local para a emissão de queixas”, sublinhou o gestor.
Ainda de acordo com o médico-chefe, o mau atendimento é relativo porque “há pacientes que têm razão e há outros que, discordando com as recomendações do técnico de saúde, dizem que são maltratados, simplesmente porque discordam.”
Ainda debruçando-se sobre o problema em questão, o gestor revelou que “agora, por exemplo, temos uma senhora que tivera duas cesarianas. Aconselhámo-la a fazer mais uma cesariana, mas ela diz que não quer. Em seguida, aconselhámo-la a assinar o papel, mas, mesmo assim, ela recusa-se. Daí surge o mal-entendido e, por detrás disso, um grande debate. O utente tem sempre razão, mas deve saber respeitar os profissionais de saúde, devemos todos preservar os bons hábitos.”
O Hospital Rural de Chicuque, explica o gestor, recebe pessoas de outras as províncias, inclusive pessoas de Maputo e Beira, porque “elas sabem que temos um bom atendimento.”
“O nosso posicionamento, enquanto Hospital Rural de Chicuque, reside no contínua melhoria dos trabalhos, faremos o que estiver ao nosso alcance, mas precisamos da colaboração dos utentes para um bom funcionamento do nosso sistema de saúde.” (OCS)