O novo estado de emergência anunciado a 05 de agosto pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, definiu o arranque da primeira fase do reinício gradual das atividades com a abertura das aulas no ensino superior e técnico, nas academias das Forças de Defesa e Segurança, e nas instituições de formação de professores e de pessoal de saúde.
Em Maputo, após quase cinco meses sem aulas, o dia nos institutos começou a meio-gás, com as salas vazias e algumas instituições ainda a criarem condições de higiene para o retorno dos alunos.
Um dos grandes medos que existe está relacionado ao facto de as instituições de ensino não estarem preparadas para o regresso às aulas.
Com efeito, o Observatório do Cidadão para Saúde (OCS) aproximou-se a duas escolas públicas, nomeadamente a Escola Comercial de Maputo e o Instituto Industrial 1º de Maio.
Uma das primeiras conclusões que faz é que os profissionais de limpeza continuarão a fazê-la do mesmo modo sem incluir novas práticas.
A segunda é que não se demonstra que houve mudança nas escolas para responder à questão da covid-19, isto é, não houve formação.
Em conversa com OCS, funcionários do Instituto Industrial 1º de Maio de Maputo deixam transparecer que o trabalho não será como antes por conta das novas medidas e formas de trabalho.
Em algumas escolas o OCS soube que o governo ainda não disponibilizou dinheiro para a aquisição de produtos de higiene para desinfectar a escola. A água, até então, era o único meio que se tinha para desinfectar, faltando álcool gel, assim como outros desinfetantes.
O facto de não ter havido alguma formação pode colocar em risco a saúde de todos nestas instituições de ensino. A quantidade de funcionários mantém-se o mesmo. Não houve assim reforço neste momento peculiar.
“É um trabalho duplicado. Não será como antes, porque tem de se ver como a casa de banho está, as salas, limpezas, desinfectar as carteiras. Estamos dispostos a trabalhar, disse Feliciano Mário de 49 anos de idade.
Feliciano, que diz estar “preparado”, diz que a dificuldade será limpeza no curso nocturno, por conta da distância entre a casa e o local de trabalho.
“Mas como temos curso nocturno, mas será impossível para mim, porque vivo longe e sairmos daqui a última hora e os alunos saem para chegar a casa é um problema sério”, acrescentou.
Ou seja, os estudantes do curso nocturno podem ficar sem a escola limpa para realizar suas actividades académicas, o que constitui um risco.
Por fim, disse à OCS que vai realizar trabalhos de limpeza de acordo com os protocolos anteriores, uma vez que ainda não tem qualquer formação sobre a covid-19.
O OCS visitou também a Escola Comercial de Maputo (ECM) e notou que as aulas ainda não arrancaram, mas a instituição está a trabalhar para retoma que vai ser autorizada pela inspeção em breve.
“A partir de agora estamos a organizar e demarcar o distanciamento dos alunos”, disse
Ernesto Nhantumbo, do sector da reprografia e limpeza, ECM disse que, “vamos trabalhar mais, e na primeira fase são 20 alunos por sala. Temos papéis para que o aluno veja o que é necessário em termos de higiene, e a limpezas serão frequentes, porque tem que se desinfectar as salas.”
Ernesto disse que a situação é incerta, pois não se sabe o estado de saúde de cada um. E ainda que seja testado na instituição, as pessoas apanham transporte, para além de ter uma situação incógnita em casa.
“Por enquanto ainda não tivemos uma formação de limpeza, mas já estamos activos, e se acontecer uma formação será para aumentar a nossa capacidade” finalizou.
Para ambos casos, o OCS fica com a impressão de que as autoridades escolares não têm um protocolo para seguir em caso de se identificar novos casos.
Tanto num, como noutro caso, as escolas não disseram de como será feita o rastreio dos contactos das escolas, isto é, o plano B.
A segunda fase, que começa em 01 de setembro, prevê a reabertura de cinemas, teatros, casinos, ginásios e escolas de condução, entre outras atividades consideradas de médio risco.
A fase três de retoma das atividades económicas, prevista para arrancar em 01 de outubro, abrange o início das aulas da 12.ª classe, último ano do ensino secundário em Moçambique, estando o ensino primário geral dependente da criação de condições de higiene para o seu reinício.
Moçambique conta com 3.046 casos positivos, 19 óbitos e 1.291 pessoas dadas como recuperadas, segundo as últimas atualizações.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 781.194 mortos e infectou mais de 22,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo a OMS.