
Muito antes de o Sistema Nacional de Saúde (SNS) ser sobrecarregado por pessoas que davam entrada aos centros de saúde por conta de infecções por Covid19, alguns profissionais já vinham trabalhando 48 horas consecutivas, sem as devidas condições ou material de protecção individual.(https://cartamz.com/index.php/politica/item/7166-sem-equipamento-suficiente-misau-incapaz-de-proteger-profissionais-da-saude-observatorio-da-saude)
A insuficiência de profissionais tem sido um dos principais problemas do sector de saúde, mesmo após o governo ter contratado mas pessoal.
Para responder a esta situação, Odete Fabião tem sido forçada a dobrar o turno para salvar vidas.
Odete Fabião é enfermeira desde 2012 e tem passado de dia e noite pelos diversos compartimentos do centro de saúde, com o objectivo de cumprir apenas um objectivo: “cuidar das pessoas e expressar o meu amor pelas pessoas”, conta.
“Quando a Covid-19 chegou, nós já estávamos acostumados duplicar o turno. Por isso, mantivemos nossa a rotina e, na verdade, nada mudou mesmo com a redução do índice de infecções por Covid-19”, referiu.
De acordo com Odete, durante o auge da Covid-19, o maior medo dos profissionais de saúde era lidar com utentes doentes, considerando que o centro de saúde não dispunha de material para protecção contra Covid-19.
“Tem sido duro trabalhar nestas condições, com falta de profissionais. Aqui, neste centro, somos quatro e fazemos assistência à maternidade, triagem e pediatria. Durante a noite, ficamos a fazer serviços de parto”, referiu.
Trazer vida é algo emocionante
Quando um dos irmãos de Odete Fabião foi admitido para o curso de enfermagem, as conversas familiares, na sua casa, passaram a girar em torno da enfermagem. Gradualmente, nessas conversas, Odete interessou-se pela saúde.
Inspirado pelo irmão, Odete decidiu, em 2010, inscrever-se para cursar enfermagem. Na altura, as matérias da escola pareciam complicadas, mas a dedicação superou as barreiras.
“A partir daquele momento, passei a olhar para o centro de saúde não como um local em que devia ser atendida, na qualidade de doente. Ou seja, passei a pisar o hospital para ajudar as pessoas”, recorda, sublinhando que o irmão se encontra actualmente trabalhar na Beira
“Dediquei-me para garantir que o meu trabalho, enquanto profissional de saúde, pudesse ser positivo para todos aqueles que procuram os nossos serviços”, conta, acrescentando que “uma das coisas que mais gosto é de trazer vidas ao mundo. Tenho muito prazer neste trabalho.”
Ao fim da formação, ela começou a trabalhar na maternidade, tendo criado um amor enorme pelo seu trabalho “porque ser uma das primeiras pessoas a ver um ser humano a sair do ventre da mãe enche-me de alegria e orgulho.”
“É um momento ímpar em que a mãe, depois de se contorcer de dores, expressa sua maior alegria e uma das pessoas que se encontra ao lado sou eu. Quero poder realizar continuamente esta actividade”, disse a enfermeira.
O centro de saúde deve ser um espaço que repudia a violência obstétrica
Numa altura em que a comunicação social e diferentes organizações da sociedade civil, incluindo o Observatório Cidadão para Saúde (OCS), têm despoletado vários casos de violência obstétrica, a enfermeira afirma que “é vergonhoso o que alguns colegas têm feito. Nada justifica a violência obstétrica”, disse.
Para a enfermeira, os profissionais de saúde não devem igualmente fazer cobranças ilícitas nas maternidade.
“Existe um código de conduta que deve ser seguido. Por isso, é urgente que os profissionais de saúde mudem de postura e comecem a tratar os pacientes com mais carinho e amor”, sublinha a fonte.
“À vezes o que o paciente mais quer é ser bem tratado e, inclusive, compreendido. O centro de saúde não deve ser um local que atormenta os pacientes. Pelo contrário, através do bom atendimento, o paciente deve, sempre que se sentir doente, olhar para o centro de saúde como um espaço seguro”, defendeu a enfermeira.
O que devíamos fazer, afirma Odete, é ajudar a parturiente e zelar por ela em cada minuto.
Em 2021, pelo menos vinte casos de violência obstétrica foram reportados um pouco por todo o país, segundo pesquisas elaboradas pela Associação Saber Nascer.(https://cartamz.com/index.php/sociedade/item/9379-mais-de-20-casos-de-violencia-obstetrica-foram-relatados-no-ultimo-trimestre-em-maputo)
Algumas mães demoram iniciar com serviço de parto
Em Inhambane, conta a enfermeira, muitos mulheres tardam a dar entrada ao centro de saúde quando prestes a dar parto. Esta situação, na perspectiva da enfermeira, tem contribuído para algumas complicações.
“Muitas destas mulheres trazem justificações distintas. Algumas dizem que, por não terem sentido dores, preferem permanecer em casa. Há mulheres que chegam aqui enquanto o serviço de parto já iniciou e isso traz complicações. Isso deve-se, em alguns casos, ao facto de preferirem permanecer em casa”, disse.
Ao longo desse tempo que trabalha como enfermeira, ela conta que já assistiu, igualmente, a mulheres que, devido às suas crenças, só se deslocam à unidade sanitária após terem passado por um médico tradicional.
“Quando vem ter connosco, descobrimos que já passaram por um médico tradicional”, conta, reconhecendo que “existem poucos casos.”