O Centro de Acolhimento, instalado na Escola Secundária de Boane, província meridional de Maputo, para albergar as vítimas das cheias, continua a carecer de profissionais de saúde para a prestação de assistência médica aos deslocados.

Tendo o Observatório Cidadão para Saúde (OCS) visitado o local, constatou que, em caso de doença, os pacientes são obrigados a deslocarem-se ao centro de acomodação que funciona na Escola Secundária Joaquim Chissano, também na vila de Boane, onde instalou-se um  posto de atendimento fixo.

Os utentes, mesmo adoentados, devem deslocar-se a pé até ao posto de atendimento (cerca de 500 metros), uma vez que não existem ambulâncias para responder a emergências.

No terreno, a nossa equipa deparou-se com uma senhora doente e que apresentava sintomas de cólera – diarreia, vómitos e febre. Por conta do elevado calor que se fazia sentir, a senhora, que responde ao nome de Elda Ivânia, recusava-se a deslocar-se até ao posto instalado na Escola Secundária Joaquim Chissano, alegando que não estava em condições, mesmo depois de ter sido sensibilizada pela equipa do OCS.

Depois de a tentativa de sensibilização não ter dado certo, a equipa do OCS viu-se obrigada a conversar com os responsáveis pelo centro de acolhimento, alertando-os sobre o risco de  a senhora passar a doença para outras pessoas com quem dividia a sala, incluindo crianças e mulheres grávidas.

Só depois desta investida é que foi possível consciencializar a senhora para a necessidade de fazer o tratamento.

O Centro de Acolhimento da Escola Secundária de Boane alberga um total de 390 pessoas, entre homens, crianças e mulheres grávidas. Para além da necessidade de se alocar profissionais de saúde para prestarem assistência às famílias, as vítimas ainda queixam-se da falta de esteiras e/ou colchões para acomodar todos os deslocados. Tal situação contribui para o aumento de casos de gripes e constipações, dado que as pessoas têm contacto directo com o chão gelado.

Outra preocupação para estas famílias reside na falta de material escolar para as suas crianças.

Por sua vez, o centro que havia sido instalado na Escola Primária 3 de Fevereiro, foi encerrado depois de o OCS, na primeira visita de monitoria, ter constatado que não dispunha de uma equipa de profissionais de saúde.

De acordo com informações fornecidas pelo director da escola, as condições das casas então inundadas não estavam boas para o regresso, mas há famílias que preferiram retornar porque o Centro de Acolhimento da Mozal não dispunha de condições básicas.

Entretanto, o centro de acolhimento instalado na Escola Primária Completa de Mabanja, que também na primeira visita tinha apenas um profissional de saúde, melhorou significativamente em termos de assistência medico-medicamentosa.

Para além dos três enfermeiros de medicina geral, afectos para prestar assistência 24 horas por dia, o centro conta com um psicólogo, pessoal de medicina preventiva, saúde ambiental e um técnico de saúde.

Vasco Luís, um dos enfermeiros no centro de Mabanja, afirmou que já foram registados casos de diarreias, malária – prontamente atendidos e receitados os devidos medicamentos.

MEDICAMENTOS DISPONÍVEIS PARA DOENTES CRÓNICOS

De acordo com a fonte, os doentes crónicos estão a prosseguir com o tratamento.

“Temos doentes hipertensos e outros em tratamento anti-retroviral. Eles aproximaram-se e informaram-nos que perderam os comprimidos com as cheias e que precisam continuar com a medicação. Para os que não têm cartões, nós damos os medicamentos e um papel para poderem apresentar aos centros de saúde, de modo a obterem a segunda via”, explicou.

Acrescentou que “temos também kits para os primeiros socorros. Estamos minimamente preparados para atender a qualquer situação que nos surgir”.

Para evitar a propagação de casos de cólera, diarreia e malária, todas as manhãs as famílias beneficiam de palestras sobre a necessidade de manter as casas de banho e as salas  limpas, tendo em conta todos os cuidados para com a higiene pessoal.

Alice Zefanias, uma das acolhidas no centro da Escola Primária de Mabanja, manifestou a sua satisfação pelo tratamento que lhe fora oferecido.

“Tendo em conta que estamos num centro de acolhimento, não tenho motivos de queixa, pois temos comida, temos lugar para dormir e quando ficamos doente temos assistência”, sublinhou.

Para além do Ministério da Saúde (MISAU), o centro de acolhimento de Mabanja conta com o apoio da Medicus Mundi, Cruz Vermelha e a Fundação Ariel Glaser, esta última responsável pela instalação da uma clínica móvel.

A assistência médico-medicamentosa também melhorou, nos centros de acolhimento das Escolas Secundárias Joaquim Chissano e Eng. Filipe Jacinto Nyusi, havendo equipas de saúde em prontidão para atender as vítimas.

Para questões de higiene e limpeza, as famílias organizaram-se em grupos de trabalho para garantir que o local esteja sempre limpo.

Apesar desta organização, as roupas, esteiras e outros bens ficam todas misturas durante o dia, conforme ilustram as fotos abaixo.

Otília Francisco Chauque, uma das vítimas no centro de acolhimento da Escola Secundária Joaquim Chissano, reconheceu que as salas ficam bagunçadas, alegando a exiguidade do espaço.

Quanto à assistência, disse que está tudo bem “ temos tido as três refeições durante o dia, de forma variada.” No entanto, esteiras e mantas não são suficientes para todas as famílias, por isso algumas pessoas continuam a dormir em capulanas e/ou no chão.

Por seu turno, Joaquim Borges, um dos técnico de saúde na Joaquim Chissano, confirmou a melhoria da prestação dos serviços de saúde, com o aumento do número de profissionais e o aprovisionamento de fármacos para as eventuais doenças.

À semelhança do centro instalado no EPC de Mabanja, no centro da Escola Secundária Joaquim Chissano existem doentes crónicos, que mesmo sem os respectivos cartões, estão a receber o tratamento.

“Temos aqui pediatra, nutricionista, técnico de enfermagem geral e outros profissionais para atender a todas as situações. Temos disponibilidade dos medicamentos e técnicos prontos para atender os pacientes durante 24 horas”, vincou.

As cheias foram causadas pela chuva torrencial que se tem feito sentir nos últimos dias na região sul do país, associada à abertura de comportas na vizinha Africa do Sul e no Reino de Eswatini, provocando a subida do nível do caudal das águas do rio Incomati e Umbeluzi. Com esta situação, várias famílias perderam seus bens, incluindo animais domésticos, residências e plantações.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Banco Nedbank Moçambique

Nº de conta: 00024061001

Moeda: MZN

NIB: 004300000002406100148

IBAN: MZ59004300000002406100148

SWIFT: UNICMZMX

Banco Nedbank Moçambique

Nº de conta: 00024061110

Moeda: USD

NIB: 004300000002406111012

IBAN: MZ59004300000002406111012

SWIFT: UNICMZMX

×