O Centro de Saúde de Mavalane, em Maputo, recusa-se a testar activistas comunitários com sintomas de Covid-19, numa altura em que o país acaba de receber mais 302.400 vacinas da farmacêutica Johnson & Johnson, de um total de 2 milhões e 64 mil doses que o país espera receber nos próximos tempos, no âmbito da iniciativa global COVAX.  

A denúncia foi avançada recentemente por um grupo de activistas na condição de anonimato, por temer represálias. A atitude deste centro de saúde contraria um princípio determinado pelo Ministério da Saúde (MISAU), depois de o Observatório Cidadão para Saúde (OCS) ter apelado à inclusão dos activistas na testagem, vacinação e, inclusive, na distribuição de equipamento de protecção.

A denúncia dos activistas surge numa altura em que o país regista diariamente a morte de no mínimo 20 pessoas por Covid-19 e a infecção de no mínimo mil.  

“Alguns activistas que trabalham nesta unidade sanitária não foram testados contra a Covi-19 mesmo tendo marcado a consulta. Os profissionais tratam mal os agentes das Organizações Comunitárias de Base (OCB)”, afirma a fonte, numa conversa com a equipa do OCS.

De acordo com a mesma fonte, o pessoal do Centro de Saúde de Mavalane recusa-se a testar os activistas por uma questão de vingança, visto que os activistas têm denunciado e criticado o mau atendimento e vigiado os provedores envolvidos a esquemas de corrupção com maior enfoque para cobranças ilícitas ao utente.

“Quando os activistas se apresentam para a testagem, os profissionais dizem que não há material para testar, mesmo em casos em que os activistas marcam a data para serem assistidos. Sabemos que se trata de um acto de vingança, uma vez que os activistas têm vigiado atenciosamente os trabalhos dos provedores”, afirma a fonte, lamentando o facto de maior parte dos seus colegas não ter sido testada.

Outro problema que os activistas denunciam se deve à insuficiência de profissionais que lidam directamente com a Covid-19.

“Olha só”, afirma a fonte apontando uma senhora que manuseia um estetoscópio, acrescentando “somente aquela senhora está ali para assistir pessoas com problemas ligados à Covid-19. Como é que uma pessoa será capaz de atender tantas pessoas em simultâneo?”

“Há poucos dias, ajudámos um utente a ter acesso a antirretrovirais. Por que motivo não sabemos, mas o profissional recusava-se a dar um segundo frasco de comprimidos ao utente. Quando interviemos, o profissional passou o frasco ao utente, e depois olhou-nos mal, com certa raiva. Isto não é uma questão de falta de insumos para testar, é uma questão de vingança”, denuncia uma fonte do sexo feminino.       

De facto, avistava-se à distância uma única senhora ao lado de uma cabine móvel com letreiros a exibirem números de emergência do Ministério da Saúde (MISAU), ilustrações de vírus e escritas da covid-19. Ela atendia os utentes. A fila de pacientes que procura testar a Covid-19 é longa. Não mais se respeita o distanciamento social.

Nesta unidade sanitária, por outro lado, já não se lava as mãos à entrada. Este facto acontece diante do olhar impávido dos profissionais de saúde.

“É sempre a assim nesta unidade sanitária. As filas sempre longa. O pessoal que trabalha na testagem não é suficiente, devia haver muitos profissionais a auxiliarem-se na testagem”, afirma um indivíduo do sexo masculino, que desempenha a função de supervisor numa OCB.

“O pior de tudo é saber que os pacientes nem têm casa de banho. Arranjam-se para fazer as necessidades fisiológicas. Onde já se viu uma casa sem casa de banho?”, questiona o supervisor, que só conseguiu fazer o teste da Covi-19 depois de várias insistências teimosas.

Vendo-se sem saída, muitos activistas recorreram a unidades sanitárias desvinculadas à actividade que exercem. Nestas unidades alternativas, acabam sendo testados por serem desconhecidos pelos profissionais de saúde.

“Muitos acabam recorrendo ao Centro de Saúde de Albazine. Lá são atendidos porque ninguém os conhece”, afirma a fonte, adiantando que “negou-se testar alguns activistas que tinham sintomas fortes de Covid-19. Muitos destes já tinham mantido contacto com outras pessoas, familiares, amigos e colegas do serviço.”

“Não sei até aonde se pretende chegar com tudo isto”, lamenta o homem.

A presente pesquisa, realizada pelo OCS no Centro de Saúde de Mavalane e no Hospital Geral de Mavalane, enquadra-se numa série de trabalhos de Monitoria das Condições Sanitárias e Prestação de Serviços nos Hospitais Públicos em Tempos de Pandemia.  

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