
Indivíduos que apresentam problemas de audição e fala debatem-se com diversos desafios para ter acesso aos cuidados de saúde condignos no Sistema Nacional de Saúde (SNS). Entre vários problemas, há que se destacar as barreiras existentes no processo comunicativo entre estes indivíduos e os profissionais de saúde. Ou seja, muitas das vezes, pacientes com problemas de audição e de fala não são correctamente diagnosticados e, consequentemente, recebem receitas erradas, correndo risco de adquirir outras patologias.
Diante desta problemática, a activista social e defensora dos direitos humanos, Nilza Massitela, defende a urgente capacitação de provedores de saúde em língua de sinais para que possam ser capazes de comunicar com pessoas com este tipo de deficiência.
Massitela conta que numa das vezes, no âmbito de seu trabalho de activismo, deparou-se com uma situação que envolvia uma senhora, com deficiência auditiva, que fora atendida por uma enfermeira sem conhecimentos em língua de sinais. A provedora não comunicava nem sequer o básico em língua de sinais.
“O que me chama atenção é que ao sair da sala, a paciente estava cabisbaixa. Abordei-a e observei a sua insatisfação para com o atendimento que recebera da enfermeira que fora incapaz de perceber a sua inquietação. Não tenho muitos conhecimentos sobre a língua de sinais, mas tenho noções básicas. Ofereci-me a regressar ao gabinete de atendimento e, com a minha ajuda, a senhora pôde explicar a enfermeira o que tinha, neste caso, uma infecção urinária”, explicou.
Comparando as receitas, a activista notou que a primeira estava errada por ser incompatível com o problema da paciente.
Assim sendo, a activista reitera que a falta de conhecimento sobre língua de sinais, nas unidades sanitárias, faz com que os serviços de saúde não sejam inclusivos, “por isso é importante que haja inclusão, tomando como exemplo o caso da senhora que quase saiu com uma medicação incompleta (e errada) por ter havido deficiência no processo comunicativo.”
“A percepção não foi completa da parte da enfermeira”, vincou, acrescentando que “Sinto que há falta de inclusão nas unidades sanitárias, havendo limitações para que pacientes portadores de deficiência na fala, na audição e na visão exponham as suas inquietações perante o profissional de saúde”, reiterou.
Mais tarde, afirmou a activista, a paciente em causa procurou-lhe para dar o feedback, visto que coincidentemente eram do mesmo distrito.
“Para mim, foi mau detectar esta falta de inclusão nas unidades sanitárias e, mais uma vez, desempenhei o meu papel de activista. Somos todos convidados a sermos unidos, a apoiarmos outras pessoas que precisam. Activismo é isso, dar a si para outra pessoa, não assistir a um acidente, nem uma situação de falta de informação. Eu não consigo ver uma situação e não conseguir intervir”, anotou.
Por outro lado, destaca o facto de a enfermeira ter aceite o seu apoio, permitindo que juntas pudessem colaborar no diagnóstico correcto da paciente. Recorrendo a esta situação, convidou os provedores de saúde, em particular, o sistema de saúde em geral, para que reflectissem sobre a inclusão, tendo em conta todos os tipos de deficiências.

Continuam Fragilidades No SNS
Nilza Massitela conta que a sua inclinação para o activismo surge aos seus 7 anos de idade. No entanto, passou a exercê-lo no ensino secundário, quando tinha 14 anos de idade, começando por se envolver em várias actividades sociais na escola, não tendo mais parado de se dedicar a causa social.
As várias fragilidades que o Sistema Nacional de Saúde apresenta, na provisão de serviços condignos, constituem factor motivacional para que Massitela se dedique ao activismo, preocupando-se com a falta de um atendimento humanizado aos utentes, assim como com o incumprimento as medidas que constam da Carta dos Direitos e Deveres do Doente (CDDD).
De acordo com a fonte, existem poucos activistas que lidam com língua de sinais. Entretanto, constitui um grande desafio ser activista porque os “activistas são vistos como indivíduos que policiam, trazem problemas e barreiras ao trabalho alheio. Mas ser activista é dar de si para o outro sem olhar para retorno monetário.”
Outro desafio por ela apontado tem a ver com as limitações que se lhes apresentam quando é para divulgar campanhas, pois os activistas não são tidos como influenciadores de políticas ou normas que trazem mudanças e melhorias na sociedade.
“A falta de humanização é tão grave que hoje olhamos para serviços de saúde sem confiança, pior ainda porque a a divulgação da Carta dos Direitos e Deveres do Doente é muito escassa [não é divulgada]”, referiu.
Por outro lado, contou que durante o seu trabalho de activismo para saúde, teve a oportunidade de mobilizar e consciencializar as comunidades sobre vários assuntos que apoquentam a comunidade, assim como os próprios provedores.
Uma das actividades que lhe marcou pela positiva foi a campanha de divulgação da CDDD, onde explicava aos beneficiários sobre como se deviam portar.
“Verifiquei que as pessoas têm muito interesse em perceber assuntos ligados à lei e a normas, mas não têm acesso aos mesmos. Então, eu fiz o trabalho de mobilização comunitária e capacitei também líderes comunitários, pontos focais das aldeias para a divulgação de informação. Capacitei igualmente os próprios provedores da saúde”, salientou.
Neste processo, afirma que os agentes comunitários levantavam vários desafios no que concerne à humanização, sendo que a maioria reclama pela forma como os enfermeiros lhes tratam, assim como a destorcida explicação sobre a toma do medicamento.
Engajamento Comunitário
Para a activista social, o seu trabalho contribui para que as comunidades tenham coragem de lutar pelos seus propósitos e direitos no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde.
“As autoridades de saúde, também, já abrem espaço para que estas comunidades contribuírem, através da criação dos comités de co-gestão e humanização. Isso, para mim, impacta porque sinto que a comunidade, o provedor e o sistema estão conectados, há uma resposta muito rápida. Não basta só divulgar os direitos, é importante que a própria comunidade esteja consciencializada sobre tais direitos, para que possa exercer a sua cidadania sem nenhuma barreira e sem medo de nenhuma represália”, sublinhou.
Na opinião de Nilza, o engajamento é o fruto de uma colaboração entre a comunidade, provedores e sistema de saúde. Acredita que quando estes membros estão conectados, muita coisa é discutida em conjunto e ultrapassada.
Para tal, diz que é preciso que se lute para que a comunidade se aproprie do sistema de saúde, bem como dos serviços de saúde, sabendo que a ela tem uma voz, e que pode apoiar em algumas actividades nas unidades sanitárias.
“ As comunidades, em certas zonas, são responsáveis pela construção de casas de banho e disponibilização de água. Quero acreditar que se eles colaboram é porque têm explicações sobre como as coisas funcionam. Se não nos apropriarmos dos problemas, simplesmente diremos que o problema é deles e paciência”, disse.
Nilza Massitela é actualmente activista social para saúde na Saber Nascer, um movimento que tem como principal objectivo erradicar a violência contra as mulheres nas maternidades.
Estou muito feliz pela intervenção da nossa activista social Nilza Massitela. A preucupação dela, preucupa nos a nós também, eu como Intérprete tenho recebido muito chamadas de colegas surdos querendo àjuda, porque ao chegarem nos hospitais, fora a complicação para comunicar, são discriminados/as, e além do mais receitadas medicamentos, sem nem sequer terem lhes feito algum exame.
Eu estou muito agradecida e também muito feliz, por perceber, que a nossa voz está sendo ouvida. E quando os profissionais da saúde aprendem muita coisa, vai minimizar muita coisa, por exemplo a privacidade da pessoa com deficiência auditiva, tem coisas que não precisa o Intérprete estar ali pra saber, e aprendendo a lingua de sinais, os profissionais da saúde, estarão mais engajados, em ajudar a pessoa surda, e as pessoas surdas também sentiram seus direitos humanos sendo cumpridos.
E nós como Associação Moçambicana das Mulheres Surdas (AMAMUS). Estamos disponíveis a trabalhar juntos, no ensino a língua de sinais para a saúde.
E muito obrigada mana Nilza Massitela pela atenção força e por lutar sempre pela INCLUSÃO.
Diante deste problema concordo plenamente com a capacitação dos Técnicos de Saúde para melhorar a comunicação.